Nesse livro, a prática precedeu a teoria. Após uma semana de muito trabalho em São Salvador, fui com meu irmão (grande incentivador e estudioso do tema), muié e filhão para uma roça na periferia de Salvador. Lá os búzios foram jogados para cada um de nós pela equede, a ialorixá recebeu sua criança, tudo isso sempre muito bem atendidos e recebidos pelos iaôs. Fiquei pasmo com a riqueza cultural que integra o sincretismo baiano e pude entender porque gigantes como Jorge Amado se renderam a poesia e a força do Candomblé. Na primeira livraria que passei na Praia do Forte, só pude comprar esse simpático livrinho para entender o contexto da extraordinária experiência que passei.
E sigo a jornada, agora acompanhado pelo jovem guerreiro Oxagiam, tendo os auspícios da fortuna que abençoa quem tem orinege ao seu lado (Oxossi e Ogum), casado com a bela e vaidosa Oxum e pai de Xangô, o justiceiro.
Como praticante de Judô há 33 anos e há 10 anos competindo na categoria grand máster, é uma honra dividir com os membros e simpatizantes da GMJB minha visão (que tenho certeza ser a de muitos outros na mesma situação) sobre o cenário competitivo atual da categoria grand máster, que reúne atletas acima de trinta anos, divididos em categorias de cinco em cinco anos nas mesmas categorias de peso do judô sênior (adulto).
Antes da existência dos campeonatos para grand masters, os praticantes de judô deixavam de competir quando ficavam mais velhos, geralmente após os 30 anos. Com o tempo, por falta de motivação, deixavam de treinar também. O resultado? Toda a experiência (no judô, na vida profissional e pessoal…) desses veteranos não era transmitida as novas gerações. Isso sem falar que esses guerreiros tarimbados perdiam uma enorme fonte de vitalidade e motivação em suas vidas, obtida pela prática do Judô e por se colocar a prova na competição. Mesmo aqueles veteranos que passaram a ser professores, por não mais competirem, deixavam de estar totalmente atualizados com as estratégias, táticas e técnicas mais atuais do Judô, para não falar nas constantes mudanças de regras que aconteceram nos últimos anos.
Até o início da década passada, os campeonatos grand máster (chamados no passado de campeonatos master ou veterano) aconteciam de forma esporádica, principalmente em âmbito estadual. Com o surgimento da WMJA (World Master Judo Association), isso mudou. A entidade começou a organizar os campeonatos mundiais da categoria, que popularizaram o master em todos os continentes. Os judocas, que tem no seu DNA o gosto por uma dura competição, passaram a voltar e se reciclar, e dessa forma auxiliam de forma muito mais efetiva a nova geração de judocas a ser ainda mais forte. A isso, pode ser acrescentado o espírito de JITA KIOEI (bem-estar e prosperidade mútua) que é totalmente presente nos campeonatos master, onde grandes rivais de muitas décadas nos tatames, hoje são grandes amigos e tem a oportunidade de se encontrar, lutar e confraternizar. Esse avanço culminou com a absorção do campeonato mundial e dos campeonatos continentais pela FIJ. Reconheço o mérito da entidade em dar credibilidade e apoiar o master desde 2010, todavia não devemos esquecer o mérito da WMJA e dos judocas grand másters que viabilizaram esse momento vivido pela categoria.
Hoje, a categoria vive um momento extraordinário no Brasil. Com cerca de 400 atletas ativos (que participam das competições), o judoca grand máster pode participar dos campeonatos estaduais, brasileiro, sulamericano, pan-americano e mundial, além das competições amistosas. Há judocas que começaram o judô quando já eram grand másters, mas a maioria dos atletas é composta por judocas que sempre competiram e ainda têm aquela sede de lutar, de dar o máximo de si, de vibrar com a medalha e de chorar com a derrota…e para nossa alegria, alguns atletas olímpicos, já começam a competir no grand másters também, o que confere ainda mais respeito e credibilidade a categoria.
Para organizar os judocas grand másters, foi fundada a GMJB . Orientação física, nutricional, administrativa, treinos… tudo o que for necessário será feito para que tenhamos a curto prazo mais de 1.000 praticantes ativos no Brasil e que nosso país seja o número 1 da categoria (hoje ocupamos uma honrosa quarta colocação, obtida no mundial de 2011, que ocorreu na Alemanha…mas quem está satisfeito com o quarto lugar?). E nesse ponto, coloco a minha visão, de quem já participou de todos os eventos da categoria, sobre como um judoca grand master deve se preparar para dar o máximo de si. São três dicas simples, básicas mesmo, as quais vou chamar de “princípios da excelência grand master”mas que se forem seguidas podem ajudar muito aos grand másters a obterem sucesso – sucesso entendido de acordo com a definição do lendário treinador de basquete universitário americano John Wooden: “o sucesso é a paz de espírito proveniente da consciência que você fez o maior esforço possível para se tornar o melhor dentro do seu potencial”:
1. Organize-se: tão logo saia o calendário anual de competições, defina de quais você vai participar (quanto mais, melhor – isso vai te manter ativo, no peso e vai ajudá-lo a conhecer os principais adversários da categoria). Negocie com a empresa em que trabalha férias para esses períodos e faça a poupança para pagar as despesas de viagem, uma vez que pouquíssimos atletas grand másters tem patrocínio – por enquanto;
2. Prepare-se: o atleta grand master muito provavelmente já teve muitas lesões. E pela sua idade, tem uma propensão maior a se lesionar do que um atleta adulto. Logo, faça um check up completo no início da temporada. Depois, monte uma agenda de treinos, com um preparador físico, um nutricionista e seu sensei, pois se você for se preparar como um atleta juvenil, junior ou sênior, estará muito exposto a lesões e excesso de treinamento e talvez não esteja no seu melhor no dia da batalha;
3. Concentre-se: Há atletas da categoria que levam as famílias nas competições e passam a semana saindo e confraternizando com seus grandes amigos. Respeito quem faz isso, afinal são décadas de convivência, mas pessoalmente prefiro estar totalmente concentrado na semana da competição. Os concorrentes são duros e todos querem a sua medalha. Então, nessa semana me dedico exclusivamente a competição.
Nos próximos artigos irei detalhar cada um dos 3 princípios da excelência grand master, para que cada um possa desenvolver seu plano de trabalho…e assim termos um grand másters muito, mas muito forte no Brasil e que atinja os objetivos estabelecidos pela GMJB ). E nesse ano, a responsabilidade e a adrenalina serão ainda maiores, pois o mundial será em…Salvador, no Brasil!!!