sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Filosofar...ou não?

A seguir, dois pequenos trechos de artigos escritos por Gustavo Ioschpe para a revista Veja. O primeiro se intitula "Na educação, a esquerda é elitista" (edição nº 2176) e o segundo "Errar é humanas".
"Ocorre que o tempo de sala de aula é finito e o preparo dos professores brasileiros, precário. O que acontece? Quando o governo aprova, por exemplo, a obrigatoriedade do ensino de filosofia e sociologia no ensino médio, isso significa que uma escola que hoje já não consegue ensinar o básico tem de dividir sua atenção, seus recursos e sua grade horária entre mais matérias ainda, diluindo ainda mais o aprendizado desse jovem. Isso faz com que o jovem carente possa falar de alienação e mais-valia, mas continue sem saber a tabuada ou sem conseguir escrever uma carta de apresentação. Seguirá distante das boas faculdades e, depois, dos bons empregos. Seguirá, enfim, sendo pobre."
"Essas idéias me vêm à mente quando vejo que filosofia e sociologia foram incluídas como matérias obrigatórias no currículo do ensino médio. Veja só: nosso sistema educacional é um fracasso tão retumbante que, na última medição em que o desempenho dos alunos foi dividido em níveis, o SAEB de 2003 apontou que 55% dos alunos da quarta série estavam em situação crítica ou muito crítica em leitura, o que quer dizer que eram praticamente analfabetos. A maioria dos alunos que faz a prova de Matemática no SAEB acha que "3/4" é 3,4, e não 0,75. Não entendem nem a notação de uma fração. Achar que esses professores, com essa qualidade, conseguirão ensinar filosofia e sociologia a esses alunos é o que os ingleses chamam de wishful thinking, um otimismo despropositado.[...] É impossível estudar filosofia se você não sabe ler. Essas aulas serão apenas uma maneira mais escancarada de se praticar o doutrinamento do marxismo rastaquera que impera em nossas escolas. Eu particularmente ficaria muito contente se os nossos alunos saíssem do ensino médio ignorantes de filosofia e sociologia, mas conseguindo ler um texto e entendendo-o, para que tomassem suas próprias conclusões filosóficas ao lerem seus próprios livros"

O autor do texto, que se diz um pensador da educação no Brasil, tendo colunas sobre o tema em importantes revistas com circulação nacional, critica o ensino de filosofia, enquanto prioriza em seu texto o ensino de matérias com funções mais"úteis" para o desenvolvimento profissional do estudante brasileiro. A partir do texto, pode se entender dois motivos para esse ponto de vista: a inutilidade do estuda da filosofia e a incompetência dos professores em ministrar não só essas matérias, como também as de cunho dito mais prático.

Sinceramente, fico pasmo ao ler semelhante texto. Claramente, o autor demonstra uma visão da educação como uma conta bancária. Ele ao fazer isso, apresenta uma visão do aluno como um mero receptor de conhecimentos, que deveriam ser acumulados durante seu tempo de estudo para assim poder ser um homem produtivo na sociedade.

Ele ignora a importância da filosofia para formar os eixos cognitivos muito bem propostos pelo Enem (ainda que os mesmos não sejam efetivamente alcançados na educação brasileira): dominar linguagens, compreender fenômenos, enfrentar situações problemas, construir argumentação e elaborar propostas. A filosofia pode ajudar e muito para a obtenção desses eixos, pois ela ajuda na análise crítica, para a formulação de argumentos. Daí pode se entender que a filosofia não oferece uma abordagem superficial a realidade, mas busca problematizar os temas de uma forma inovadora, buscar respostas, fora do lugar comum, recusar padrões pré-estabelecidos que favorecem as elites dominantes....

Ainda que concorde com o autor do infeliz texto que devemos fornecer uma formação adequada nas matérias ditas mais úteis e também devemos elevar o nível dos professores brasileiros, repudio a visão limitada do ensino que ele propõe, que nada oferece ou propõe para a formação de indivíduos críticos e pensantes que podem alavancar o genuíno desenvolvimento humano e social e parece apenas oferecer mão de obra para o establishment.

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