A par dos intercâmbios com outros centros de prática do Judô, iniciados no Gondoleiros e consolidados na Sogipa, com torneios contra o Blumenau (SC), o Pinheiros (SP) e a Gama Filho (RJ), esta com ida e volta, sempre considerei a necessidade do atleta visitar academias locais, mediante convite, até para quebrar a monotonia dos treinos no mesmo lugar e com os colegas de sempre.
Assim pensando, diversas vezes visitamos academias coirmãs, quase sempre lá encontrando combates acirrados, pois ninguém queria cair para o visitante, até porque o morote do Luís Henrique continuava fazendo estragos.
Dos tantos locais visitados em Porto Alegre e arredores, destaco a visita a uma academia do prof. Fernando Lemos, fã confesso do Luís Henrique, localizada no salão de uma igreja no Menino Deus, cujos atletas passavam muito tempo cobrando promoções e pouco treinando, para irritação do sensei.
Na hora aprazada lá estávamos, constatando que o Luís Henrique esquecera em casa a sua faixa verde (aos 10 anos), motivo para o Fernando Lemos emprestar-lhe uma branca e, no decorrer dos randoris, com todos que enfrentaram o Luís Henrique caindo várias vezes por ippon, ensejando ao prof. Fernando a chance de dar uma lição aos seus afoitos pupilos. Registre-se que os atletas locais queriam pegar o pequeno judoca visitante “faixa branca”, sendo formada, inclusive, uma concorrida fila para isso...
Com o entusiasmo de um orgulhoso pai de três varões bons de Judô, sempre procurei registrar a evolução e a carreira dos filhos, tudo plasmado em vários álbuns, centenas de slides e fotos e, nos últimos anos, algumas dezenas de filmes super 8.
No período das “filmagens”, quando adquiri uma câmera com sistema de aproximação e uma iluminação a halogênio, coisa chique e moderna para a época, restaram dois episódios até hilários, ambos partidos do Grêmio de Porto Alegre. O primeiro, quando convenceram os dirigentes da federação de que a lâmpada que eu usava, por ser de luz branca e muito forte, “cegava” os adversários do Luís Henrique, como se o Judô fosse estático, com a consequente proibição de filmarmos com luz...
O segundo, ao visitarmos um restaurante perto do Estádio Olímpico do Grêmio, que, para nossa surpresa, constatamos pertencer ao Português, pai do Branco, um atleta sem expressão do Grêmio. O obtuso Português aproveitou para reclamar, ao vivo, que o seu filho sempre perdeu para o Luís Henrique por causa da minha maldita luz...
segunda-feira, 30 de maio de 2011
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Dica de Leitura 127 - A Raínha dos Caraíbas
Bom, esperei décadas para reler "Corsário Negro" e a Iluminuras emenda e publica a coleção toda...nessa continuação o Corsário, atormentado pelos irmãos não-vingados e pelo amor perdido da filha de Wan Guld, vai no México finalmente encontrar seu maior inimigo. E só um vai sobreviver dessa vez...mesma linha do primeiro da série, mas vale para quem gostou dos personagens...agora já vou começar o terceiro, "Iolanda, a filha do Corsário Negro". Essas séries são fogo...da época em que os livros eram publicados em folhetins.
Dica de Leitura 126 - O Corsário Negro
Esperei 25 anos para reler esse livro...em nova edição da Iluminuras, Emílio Salgari, soberbo escritor de aventuras que no século XX iniciou e motivou gerações a explorarem (e algumas vezes conquistarem) o mundo, nos apresenta ao Corsário Negro. Para vingar os 3 irmãos, mortos pelo Duque Wan Guld, o nobre se transforma no terrível corsário...e enfrenta seu inimigo nas colônias espanholas do Caribe. Só que além de todos os perigos da selva e do exército espanhol, entre o Corsário e Wan Guld se colocará uma barreira prá lá de difícil: a filha do Duque por quem o vingador se apaixona...quem não leu tem que ler, quem já leu, relembrar é viver.
Dica de Leitura 125 - Império
Nesse livro, o historiador Niall Ferguson nos apresenta qual a (gigantesca) contribuição dos britânicos para a construção do mundo moderno. Com um pouco de pirata, um pouco de comerciante, um pouco de conquistador, um pouco de missionário,...os britânicos nos últimos 400 anos foram provavelmente o povo que mais contribuiu para o mundo ser como é hoje (basta ver importância da língua inglesa, a força da ex-colônia e sucessor EUA e quem segurou o ímpeto de Hitler na II Guerra). Com um julgamento razoalvemente isento, o autor nos apresenta como isso aconteceu. Ótima leitura.
Dica de Leitura 124 - Elogio da Mentira
Patricia Melo escreveu ótimos livros policiais, como Inferno, O Matador...ela é da escola do Rubem Fonseca, texto seco, rápido, com anti-heróis simpáticos (boa, mas não tão boa quanto o RF). Esse livro é mais um policial dessa escola, onde um escritor pulp se apaixona por uma esposa de um milionário, assassina compulsiva e criadora de cobras, focada na herança e no seguro...e entre mil e uma peripécias, assassinatos, etc nosso herói o escritor vai às vezes ajudando, às vezes se opondo, sobrevivendo as armadilhas da bruxa má.
Para ler na ponte aérea (é curtinho)...
Para ler na ponte aérea (é curtinho)...
Crônicas de um judoca determinado - 5 - Dois adversários, duas histórias diferentes
Nessa quinta crônica de um judoca determinado, Emir Vilalba conta a importância dos adversários para a formação do grande judoca que foi seu filho, Luis Henrique. E como escolhas diferentes podem levar pessoas ao céu ou ao inferno...Demais!
O valoroso atleta Antônio Goulart, o Tuti, de Santa Maria, marcou época no judô gaúcho pela valentia, garra, técnica e uma imensa determinação em vencer o Luís Henrique.
Encontravam-se, no mínimo, duas vezes por ano, no Campeonato Estadual Estudantil e no Campeonato Estadual do Rio Grande do Sul, e o Tuti, a par de uma admiração muito grande pelo seu adversário, nutria o desejo de vencê-lo um dia no tatame, o que jamais ocorreu.
Era um menino extremamente educado e simpático e sempre nos procurava antes das competições para saber se estava na mesma chave do Luís Henrique, tendo ambos protagonizado lutas memoráveis: o Tuti enfrentava o Luís Henrique com a gana de vencer, ia para cima mesmo, mas quase sempre acabava vencido por ippon.
Hoje o Tuti é .médico em Santa Maria, sua cidade natal.
Já o Cesar Schneider, o Toquinho, adversário em muitas disputas, logrou uma vitória na bandeira em 13 de maio de 1978 no Campeonato Metropolitano, categoria infanto-juvenil pluma (11 e 12 anos).
O Cesar Schneider, atleta do Grêmio de Porto Alegre, era muito ágil e voluntarioso, e o seu clube em peso comemorou muito essa única vitória sobre o Luís Henrique, com destaque para o pai do Carlos Heitor, cujo nome não lembro: aquele senhor, de porte e barriga avantajados, após proclamada a vitória do Toquinho, saiu a correr pelas dependências do DED – Departamento Estadual de Desportes aos gritos de “Acabou o reinado, acabou o reinado!..”
Anos depois, com o Luís Henrique atleta do Grêmio e convivendo com aquelas mesmas pessoas, tive ímpetos de cobrar daquele senhor a sua ridícula correria pelo DED, mas me contive, até porque, fazendo menção a um reinado que acabara, plasmou o reconhecimento de que havia, sim, um rei, o rei-menino dos tatames, que com a sua técnica e determinação reescreveu a História do Judô no Rio Grande do Sul.
Quanto ao Cesar Schneider, o Toquinho, que mais tarde, fazendo das drogas a sua companhia constante, morreu de overdose antes dos vinte anos de idade, coitado.
Duas histórias dos tatames e dois destinos muito diferentes.
O valoroso atleta Antônio Goulart, o Tuti, de Santa Maria, marcou época no judô gaúcho pela valentia, garra, técnica e uma imensa determinação em vencer o Luís Henrique.
Encontravam-se, no mínimo, duas vezes por ano, no Campeonato Estadual Estudantil e no Campeonato Estadual do Rio Grande do Sul, e o Tuti, a par de uma admiração muito grande pelo seu adversário, nutria o desejo de vencê-lo um dia no tatame, o que jamais ocorreu.
Era um menino extremamente educado e simpático e sempre nos procurava antes das competições para saber se estava na mesma chave do Luís Henrique, tendo ambos protagonizado lutas memoráveis: o Tuti enfrentava o Luís Henrique com a gana de vencer, ia para cima mesmo, mas quase sempre acabava vencido por ippon.
Hoje o Tuti é .médico em Santa Maria, sua cidade natal.
Já o Cesar Schneider, o Toquinho, adversário em muitas disputas, logrou uma vitória na bandeira em 13 de maio de 1978 no Campeonato Metropolitano, categoria infanto-juvenil pluma (11 e 12 anos).
O Cesar Schneider, atleta do Grêmio de Porto Alegre, era muito ágil e voluntarioso, e o seu clube em peso comemorou muito essa única vitória sobre o Luís Henrique, com destaque para o pai do Carlos Heitor, cujo nome não lembro: aquele senhor, de porte e barriga avantajados, após proclamada a vitória do Toquinho, saiu a correr pelas dependências do DED – Departamento Estadual de Desportes aos gritos de “Acabou o reinado, acabou o reinado!..”
Anos depois, com o Luís Henrique atleta do Grêmio e convivendo com aquelas mesmas pessoas, tive ímpetos de cobrar daquele senhor a sua ridícula correria pelo DED, mas me contive, até porque, fazendo menção a um reinado que acabara, plasmou o reconhecimento de que havia, sim, um rei, o rei-menino dos tatames, que com a sua técnica e determinação reescreveu a História do Judô no Rio Grande do Sul.
Quanto ao Cesar Schneider, o Toquinho, que mais tarde, fazendo das drogas a sua companhia constante, morreu de overdose antes dos vinte anos de idade, coitado.
Duas histórias dos tatames e dois destinos muito diferentes.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Crônicas de um judoca determinado - 4 - O quimono japonês e o Jornal A Notícia
Sempre entendi que o bom atleta tinha que vestir o melhor quimono e estar impecável durante as competições, de qualquer nível.
Para tanto, era com a maior satisfação que preparava o seu quimono, passando-o com esmero, quando necessário, após ser lavado e deixado imaculadamente branco pela mãe. O escudo do clube e a própria faixa eram, também, motivos de cuidados especiais.
Ali pelos oito ou nove anos, botei na cabeça que o Luís Henrique devia e merecia ter um quimono japonês, de preferência comprado em Tóquio, indumentária que cairia como uma luva no jovem e admirado judoca.
Para tanto, procurei um comissário de vôo da Varig, que aceitou a incumbência de trazer do Japão um legítimo quimono, ao custo de cem dólares americanos. Quase um mês depois, telefonou-me a esposa do comissário com a tão esperada encomenda em mãos, apenas com um inesperado acréscimo de mais cem dólares...
Não obstante o incidente, o Luís Henrique vestiu, e muito bem, o quimono japonês, importado com grande sacrifício, ganhando com ele muitas competições.
Como filho de sãoluizense e amigo pessoal do José Grisólia Filho, o Iso, é evidente que o Luís Henrique e seus irmãos tinham abrigo permanente nas páginas do jornal local “A Notícia”, o destemido hebdomadário que cobre São Luiz Gonzaga e adjacências.
Foram muitas as matérias, algumas de páginas inteiras, com cobertura, inclusive, de uma inédita demonstração de Judô em São Luiz, com dois ônibus da Sogipa de Porto Alegre viajando mais de mil quilômetros, a fim de mostrar o esporte de Jigoro Kano para uma platéia de pasmos e toscos sãoluizenses, que lotaram o ginásio local.
Mais tarde, com o Luís Henrique com uns vinte anos e mais a companhia do Junior e do Márcio, vale a pena o registro de uma outra demonstração dos três irmãos num clube em São Luiz, desta feita com o uso do Judô como arma de defesa pessoal.
Procurei, antes, o batalhão local da gloriosa Brigada Militar do Rio Grande do Sul, que emprestou-nos um revólver calibre 38, carregado com quatro cápsulas de pólvora seca.
O ápice da demonstração ocorria com o Luís Henrique projetando e desarmando o Junior, que o atacara, e mesmo subjugado, detonava os quatro tiros, até para causar maior impacto.
O que deu de conterrâneo se jogando no chão, não tem no mapa...
Para tanto, era com a maior satisfação que preparava o seu quimono, passando-o com esmero, quando necessário, após ser lavado e deixado imaculadamente branco pela mãe. O escudo do clube e a própria faixa eram, também, motivos de cuidados especiais.
Ali pelos oito ou nove anos, botei na cabeça que o Luís Henrique devia e merecia ter um quimono japonês, de preferência comprado em Tóquio, indumentária que cairia como uma luva no jovem e admirado judoca.
Para tanto, procurei um comissário de vôo da Varig, que aceitou a incumbência de trazer do Japão um legítimo quimono, ao custo de cem dólares americanos. Quase um mês depois, telefonou-me a esposa do comissário com a tão esperada encomenda em mãos, apenas com um inesperado acréscimo de mais cem dólares...
Não obstante o incidente, o Luís Henrique vestiu, e muito bem, o quimono japonês, importado com grande sacrifício, ganhando com ele muitas competições.
Como filho de sãoluizense e amigo pessoal do José Grisólia Filho, o Iso, é evidente que o Luís Henrique e seus irmãos tinham abrigo permanente nas páginas do jornal local “A Notícia”, o destemido hebdomadário que cobre São Luiz Gonzaga e adjacências.
Foram muitas as matérias, algumas de páginas inteiras, com cobertura, inclusive, de uma inédita demonstração de Judô em São Luiz, com dois ônibus da Sogipa de Porto Alegre viajando mais de mil quilômetros, a fim de mostrar o esporte de Jigoro Kano para uma platéia de pasmos e toscos sãoluizenses, que lotaram o ginásio local.
Mais tarde, com o Luís Henrique com uns vinte anos e mais a companhia do Junior e do Márcio, vale a pena o registro de uma outra demonstração dos três irmãos num clube em São Luiz, desta feita com o uso do Judô como arma de defesa pessoal.
Procurei, antes, o batalhão local da gloriosa Brigada Militar do Rio Grande do Sul, que emprestou-nos um revólver calibre 38, carregado com quatro cápsulas de pólvora seca.
O ápice da demonstração ocorria com o Luís Henrique projetando e desarmando o Junior, que o atacara, e mesmo subjugado, detonava os quatro tiros, até para causar maior impacto.
O que deu de conterrâneo se jogando no chão, não tem no mapa...
terça-feira, 17 de maio de 2011
Dica de Leitura 123 - Honra Teu Pai
Pessoal, após muuuito tempo de time out (e algumas centenas de livros lidos), volto com as dicas de leitura.
Eu não conhecia Gay Talese...e o cara é o máximo! Estudou, conviveu e escreveu um livro sobre a escensão e queda da família mafiosa Bonnano, sem mistificacões e sem julgamentos de valor.
Tendo como protagonista o filho do patriarca, Bill Bonnano, que foi criado para ser "um príncipe guerreiro em uma sociedade secreta", o leitor vai poder entender o dia a dia da máfia.
Temíveis, mas sem tanto poder, sem tanto dinheiro como eu pensava ao ler o livro. Caras duros vivendo no século XX com um código de conduta medieval, baseado na honra, lealdade,...mas sem a canastrice de uma Família Soprano.
Leitura marcante, já virei fa do Gay e vou partir para cima dos outros livros dele...
Eu não conhecia Gay Talese...e o cara é o máximo! Estudou, conviveu e escreveu um livro sobre a escensão e queda da família mafiosa Bonnano, sem mistificacões e sem julgamentos de valor.
Tendo como protagonista o filho do patriarca, Bill Bonnano, que foi criado para ser "um príncipe guerreiro em uma sociedade secreta", o leitor vai poder entender o dia a dia da máfia.
Temíveis, mas sem tanto poder, sem tanto dinheiro como eu pensava ao ler o livro. Caras duros vivendo no século XX com um código de conduta medieval, baseado na honra, lealdade,...mas sem a canastrice de uma Família Soprano.
Leitura marcante, já virei fa do Gay e vou partir para cima dos outros livros dele...
Crônicas de um judoca determinado - 3 - Testando o tomoe nague do Matias
Pessoal, rápido agora (como os golpes do Luiz Henrique) aí vai a terceira crônica de um judoca determinado!
Campeonato Estadual Estudantil na cidade de Pelotas, em 23 de junho de 1974, o Luís Henrique, então com 8 anos, consagrado regionalmente e o adversário a ser batido por todos.
Ao chegarmos ao Ginásio do Gato Preto, fomos abordados pelo prof. Kagueyama de Santa Maria, um fã confesso do Henrique, a quem não se cansava de elogiar e admirar. O prof. Kagueyama, cujo pupilo Matias Marsilac Matias era a sua nova grande aposta, revelou-nos quase como um repto: “Preparei o Matias pra ganhar do Henrique, com um golpe secreto e muito bem treinado...”
Ficamos todos muito curiosos para saber qual o segredo do prof. Kagueyama e, iniciada a competição, como tinha autorização para fotografar (slides) ao lado do tatame, com o Luís Henrique e o Matias em chaves diferentes, observei, desde logo, que o atleta de Santa Maria, após o hajime, levava o seu adversário até um dos cantos da área e, contando até três, conseguia o ippon com um tomoe nague absolutamente perfeito!
Fui de imediato ao Luís Henrique, que estava ganhando tranquilamente a sua chave, e revelei-lhe que o segredo do prof. Kagueyama era, pura e simplesmente, um tomoe nague certamente treinado à exaustão. Comentário dele: “Eu já vi, pai...”
Na luta final do peso pena, pela expectativa gerada, a direção do campeonato parou uma das duas áreas para que o público se concentrasse na luta Luís Henrique x Matias.
Continuei no meu posto ao lado do tatame, a luta começou e de imediato o Luís Henrique, com um morote quase perfeito, conseguiu um wazzari e, simplesmente, não atacou mais, literalmente parou, cedendo às iniciativas ao Matias!
Como eu não podia torcer, parei de fotografar e vi, apreensivo, o Matias conduzir o Luís Henrique para um dos cantos do tatame e contar, em alto e bom tom, “um, dois, três”, com o Henrique voando... O árbitro central, prof. Luiz Scandiel, de imediato ergueu o braço direito sinalizando ippon, passou para wazzari, chegou a koka e, finalmente determinou nenhuma vantagem, pois o Luís Henrique, ao ser projetado, desvencilhou-se da pegada, girou no ar, completou o salto mortal e caiu de pé!
Imediatamente após, ao reinício da luta, deu um ippon no Matias, sempre o morote seoi nague, e encerrou a luta, ganhando, mais uma vez, o Campeonato Estadual Estudantil de forma incrível.
Seu comentário quando fui abraçá-lo, ainda com o coração na mão: “Eu queria ver se ele me acertava um tomoe-nague...”
E nada mais disse.
Campeonato Estadual Estudantil na cidade de Pelotas, em 23 de junho de 1974, o Luís Henrique, então com 8 anos, consagrado regionalmente e o adversário a ser batido por todos.
Ao chegarmos ao Ginásio do Gato Preto, fomos abordados pelo prof. Kagueyama de Santa Maria, um fã confesso do Henrique, a quem não se cansava de elogiar e admirar. O prof. Kagueyama, cujo pupilo Matias Marsilac Matias era a sua nova grande aposta, revelou-nos quase como um repto: “Preparei o Matias pra ganhar do Henrique, com um golpe secreto e muito bem treinado...”
Ficamos todos muito curiosos para saber qual o segredo do prof. Kagueyama e, iniciada a competição, como tinha autorização para fotografar (slides) ao lado do tatame, com o Luís Henrique e o Matias em chaves diferentes, observei, desde logo, que o atleta de Santa Maria, após o hajime, levava o seu adversário até um dos cantos da área e, contando até três, conseguia o ippon com um tomoe nague absolutamente perfeito!
Fui de imediato ao Luís Henrique, que estava ganhando tranquilamente a sua chave, e revelei-lhe que o segredo do prof. Kagueyama era, pura e simplesmente, um tomoe nague certamente treinado à exaustão. Comentário dele: “Eu já vi, pai...”
Na luta final do peso pena, pela expectativa gerada, a direção do campeonato parou uma das duas áreas para que o público se concentrasse na luta Luís Henrique x Matias.
Continuei no meu posto ao lado do tatame, a luta começou e de imediato o Luís Henrique, com um morote quase perfeito, conseguiu um wazzari e, simplesmente, não atacou mais, literalmente parou, cedendo às iniciativas ao Matias!
Como eu não podia torcer, parei de fotografar e vi, apreensivo, o Matias conduzir o Luís Henrique para um dos cantos do tatame e contar, em alto e bom tom, “um, dois, três”, com o Henrique voando... O árbitro central, prof. Luiz Scandiel, de imediato ergueu o braço direito sinalizando ippon, passou para wazzari, chegou a koka e, finalmente determinou nenhuma vantagem, pois o Luís Henrique, ao ser projetado, desvencilhou-se da pegada, girou no ar, completou o salto mortal e caiu de pé!
Imediatamente após, ao reinício da luta, deu um ippon no Matias, sempre o morote seoi nague, e encerrou a luta, ganhando, mais uma vez, o Campeonato Estadual Estudantil de forma incrível.
Seu comentário quando fui abraçá-lo, ainda com o coração na mão: “Eu queria ver se ele me acertava um tomoe-nague...”
E nada mais disse.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Crônicas de um judoca determinado - 2 - Navegando com o Gondoleiros
Pessoal, mais uma crônica sobre a formação do grande judoca e amigo Luis Henrique Vilalba, escrita por seu pai, meu também amigo Emir. Para quem gosta de judô, ou só de ler, imperdível!
A professora Léa Linhares, antevendo que o pequeno judoca tinha futuro e por não ser uma pessoa egoísta, encaminhou o Luís Henrique para a Sociedade Gondoleiros de Porto Alegre, onde o competente professor japonês Naoshige Ushijima, o Nao, era o titular, chegado há pouco tempo no Brasil e falando um português arrevesado, mas com um profundo domínio das técnicas do Judô.
A transferência foi no início de 1972 e a interação entre os dois foi imediata, com o Nao passando a aperfeiçoar o morote seoi nague do Luís Henrique, técnica que viria a ser a sua favorita e uma arma letal contra os seus adversários: estes sabiam que o morote era iminente e quase sempre levavam o ippon em função desse golpe...
Foram três anos no Gondoleiros, de 1972 a 1974, com o Luís Henrique conquistando individualmente dezoito ouros e quatro pratas. Destaque, ainda, para o título metropolitano mirim de 1974, o bicampeonato estadual estudantil de 1973/74, o bicampeonato estadual do Rio Grande do Sul de 1973/74, promoções às faixas amarela (1972) e laranja (1974) e a sua escolha como o “Melhor Atleta Mirim do Estado” em 1973 e 1974.
Um fato a ser destacado nesse período, por ser peculiar, foi o Torneio Gondoleiros x Jigoro Kano, de Santa Maria, em 4 de junho de 1972, quando viajamos de ônibus para àquela cidade, levando o Junior com menos de dois meses de vida. Como tínhamos muitas fraldas de pano molhadas, utilizamos aquele suporte de cima do ônibus para secá-las, certamente o único veículo com tais enfeites naquela ocasião... Registro: o Luís Henrique foi campeão mirim pluma, ganhando todas a lutas de ippon, sendo essa a sua primeira medalha.
Hoje, mais do que nunca, temos a convicção de que a ida do Junior à Santa Maria, então um bebê com exatos quarenta e quatro dias, não foi uma irresponsabilidade dos seus pais, mas a necessidade de toda a família estar presente num evento tão importante para o irmão mais velho. O Luís Henrique, inclusive, não acreditava que a Nilza viajasse, sendo o Junior tão pequenino...
Deve ser destacado que a Sociedade Gondoleiros de Porto Alegre, um clube com vocação social, através do seu pequeno departamento de Judô, foi bicampeã metropolitana 1973/74 e campeã estadual geral de 1974, batendo os mais tradicionais e antigos clubes praticantes do esporte no Rio Grande do Sul.
O Luís Henrique, então com oito anos e faixa laranja, e sempre com o competente e inesquecível Nao, evoluiu muito como judoca, passando a dominar outras técnicas, mas sempre com o morote seoi nague como a preferida.
A professora Léa Linhares, antevendo que o pequeno judoca tinha futuro e por não ser uma pessoa egoísta, encaminhou o Luís Henrique para a Sociedade Gondoleiros de Porto Alegre, onde o competente professor japonês Naoshige Ushijima, o Nao, era o titular, chegado há pouco tempo no Brasil e falando um português arrevesado, mas com um profundo domínio das técnicas do Judô.
A transferência foi no início de 1972 e a interação entre os dois foi imediata, com o Nao passando a aperfeiçoar o morote seoi nague do Luís Henrique, técnica que viria a ser a sua favorita e uma arma letal contra os seus adversários: estes sabiam que o morote era iminente e quase sempre levavam o ippon em função desse golpe...
Foram três anos no Gondoleiros, de 1972 a 1974, com o Luís Henrique conquistando individualmente dezoito ouros e quatro pratas. Destaque, ainda, para o título metropolitano mirim de 1974, o bicampeonato estadual estudantil de 1973/74, o bicampeonato estadual do Rio Grande do Sul de 1973/74, promoções às faixas amarela (1972) e laranja (1974) e a sua escolha como o “Melhor Atleta Mirim do Estado” em 1973 e 1974.
Um fato a ser destacado nesse período, por ser peculiar, foi o Torneio Gondoleiros x Jigoro Kano, de Santa Maria, em 4 de junho de 1972, quando viajamos de ônibus para àquela cidade, levando o Junior com menos de dois meses de vida. Como tínhamos muitas fraldas de pano molhadas, utilizamos aquele suporte de cima do ônibus para secá-las, certamente o único veículo com tais enfeites naquela ocasião... Registro: o Luís Henrique foi campeão mirim pluma, ganhando todas a lutas de ippon, sendo essa a sua primeira medalha.
Hoje, mais do que nunca, temos a convicção de que a ida do Junior à Santa Maria, então um bebê com exatos quarenta e quatro dias, não foi uma irresponsabilidade dos seus pais, mas a necessidade de toda a família estar presente num evento tão importante para o irmão mais velho. O Luís Henrique, inclusive, não acreditava que a Nilza viajasse, sendo o Junior tão pequenino...
Deve ser destacado que a Sociedade Gondoleiros de Porto Alegre, um clube com vocação social, através do seu pequeno departamento de Judô, foi bicampeã metropolitana 1973/74 e campeã estadual geral de 1974, batendo os mais tradicionais e antigos clubes praticantes do esporte no Rio Grande do Sul.
O Luís Henrique, então com oito anos e faixa laranja, e sempre com o competente e inesquecível Nao, evoluiu muito como judoca, passando a dominar outras técnicas, mas sempre com o morote seoi nague como a preferida.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Crônicas de um judoca determinado - 1 - Uma promoção quase a força
Pessoal, meu amigo Emir Vilalba, pai de 3 faixas pretas casca-grossa, entre eles o Luis Henrique Vilalba e o outro o Emir Vilalba, que fizeram história no judô do RS, SP e Brasil, escreveu algumas crônicas sobre a formação e o desenvolvimento no judô de seu filho mais velho, o Luis Henrique.
Quando ele dividiu comigo os deliciosos textos, logo pedi para publicar no BLOG. Com sua autorização, aí vai a primeira crônica. Boa leitura!!!
Léa Maria Chaves Linhares, com quem tudo começou em 6 de setembro de 197l, um nome para jamais ser esquecido.
E, em 20 de dezembro de 1971, no Colégio Estadual Gonçalves Dias de Porto Alegre, o Luís Henrique, então com cinco anos, protagonizou uma façanha incrível: com pouco mais de três meses de prática de Judô, sob a orientação da Léa Linhares, a primeira mulher gaúcha a chegar à faixa preta, conquistou a graduação para a faixa azul de forma inusitada.
Para minorar os efeitos maléficos da asma, e seguindo orientação médica, o Luís Henrique começou a praticar Judô com a Léa naquele 6.9.1971, professora indicada pelo saudoso Henrique Dias.
De pronto, não obstante a sua pequena estatura, a sensível Léa Linhares viu nele um judoca promissor, passando a ensinar-lhe o morote seoi nague como técnica mais favorável e indicada à sua mini envergadura e grande velocidade.
Transcorridos pouco mais de três meses de treinos, participamos em 20 de dezembro de 1971 da festiva troca de faixas dos judocas do Gonçalves Dias, em cuja relação não constava o nome do Luís Henrique, por nem ter tempo de treinamento suficiente para ser promovido à faixa azul, a primeira graduação à época.
No dia aprazado, com todos os atletas postados, o Luís Henrique, do alto dos seus cinco anos e faixa branca, questionou a Léa de que queria também ser promovido, com tal insistência que a deixou estupefata. A Léa, então, para não desestimulá-lo, propôs uma série de cinco randoris, com meninos de seis a oito anos, para determinar a promoção: ao Luís Henrique, alertou da necessidade de ganhar com cinco ippons para fazer jus à faixa azul; aos cinco contendores, a recomendação séria de que, se facilitassem a tarefa do desafiante, eles próprios não seriam promovidos e deixariam de receber as suas faixas.
O que se viu, então, foi inesquecível: o pequeno judoca derrubou um a um os seus contendores, com a aplicação de morotes perfeitos e cinco ippons incontestáveis... A Léa, coitada, metida numa saia justa inesperada, apenas ria e meneava a cabeça, não acreditando no que os seus olhos registraram!
Findas as cinco lutas, a Léa teve que arranjar uma faixa azul emprestada para promover quase à força o pequeno judoca, faixa original, aliás, que nunca foi devolvida ao seu dono, sendo substituída por uma outra novinha em folha.
Quando ele dividiu comigo os deliciosos textos, logo pedi para publicar no BLOG. Com sua autorização, aí vai a primeira crônica. Boa leitura!!!
Léa Maria Chaves Linhares, com quem tudo começou em 6 de setembro de 197l, um nome para jamais ser esquecido.
E, em 20 de dezembro de 1971, no Colégio Estadual Gonçalves Dias de Porto Alegre, o Luís Henrique, então com cinco anos, protagonizou uma façanha incrível: com pouco mais de três meses de prática de Judô, sob a orientação da Léa Linhares, a primeira mulher gaúcha a chegar à faixa preta, conquistou a graduação para a faixa azul de forma inusitada.
Para minorar os efeitos maléficos da asma, e seguindo orientação médica, o Luís Henrique começou a praticar Judô com a Léa naquele 6.9.1971, professora indicada pelo saudoso Henrique Dias.
De pronto, não obstante a sua pequena estatura, a sensível Léa Linhares viu nele um judoca promissor, passando a ensinar-lhe o morote seoi nague como técnica mais favorável e indicada à sua mini envergadura e grande velocidade.
Transcorridos pouco mais de três meses de treinos, participamos em 20 de dezembro de 1971 da festiva troca de faixas dos judocas do Gonçalves Dias, em cuja relação não constava o nome do Luís Henrique, por nem ter tempo de treinamento suficiente para ser promovido à faixa azul, a primeira graduação à época.
No dia aprazado, com todos os atletas postados, o Luís Henrique, do alto dos seus cinco anos e faixa branca, questionou a Léa de que queria também ser promovido, com tal insistência que a deixou estupefata. A Léa, então, para não desestimulá-lo, propôs uma série de cinco randoris, com meninos de seis a oito anos, para determinar a promoção: ao Luís Henrique, alertou da necessidade de ganhar com cinco ippons para fazer jus à faixa azul; aos cinco contendores, a recomendação séria de que, se facilitassem a tarefa do desafiante, eles próprios não seriam promovidos e deixariam de receber as suas faixas.
O que se viu, então, foi inesquecível: o pequeno judoca derrubou um a um os seus contendores, com a aplicação de morotes perfeitos e cinco ippons incontestáveis... A Léa, coitada, metida numa saia justa inesperada, apenas ria e meneava a cabeça, não acreditando no que os seus olhos registraram!
Findas as cinco lutas, a Léa teve que arranjar uma faixa azul emprestada para promover quase à força o pequeno judoca, faixa original, aliás, que nunca foi devolvida ao seu dono, sendo substituída por uma outra novinha em folha.
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