terça-feira, 17 de maio de 2011

Crônicas de um judoca determinado - 3 - Testando o tomoe nague do Matias

Pessoal, rápido agora (como os golpes do Luiz Henrique) aí vai a terceira crônica de um judoca determinado!

Campeonato Estadual Estudantil na cidade de Pelotas, em 23 de junho de 1974, o Luís Henrique, então com 8 anos, consagrado regionalmente e o adversário a ser batido por todos.
Ao chegarmos ao Ginásio do Gato Preto, fomos abordados pelo prof. Kagueyama de Santa Maria, um fã confesso do Henrique, a quem não se cansava de elogiar e admirar. O prof. Kagueyama, cujo pupilo Matias Marsilac Matias era a sua nova grande aposta, revelou-nos quase como um repto: “Preparei o Matias pra ganhar do Henrique, com um golpe secreto e muito bem treinado...”
Ficamos todos muito curiosos para saber qual o segredo do prof. Kagueyama e, iniciada a competição, como tinha autorização para fotografar (slides) ao lado do tatame, com o Luís Henrique e o Matias em chaves diferentes, observei, desde logo, que o atleta de Santa Maria, após o hajime, levava o seu adversário até um dos cantos da área e, contando até três, conseguia o ippon com um tomoe nague absolutamente perfeito!
Fui de imediato ao Luís Henrique, que estava ganhando tranquilamente a sua chave, e revelei-lhe que o segredo do prof. Kagueyama era, pura e simplesmente, um tomoe nague certamente treinado à exaustão. Comentário dele: “Eu já vi, pai...”
Na luta final do peso pena, pela expectativa gerada, a direção do campeonato parou uma das duas áreas para que o público se concentrasse na luta Luís Henrique x Matias.
Continuei no meu posto ao lado do tatame, a luta começou e de imediato o Luís Henrique, com um morote quase perfeito, conseguiu um wazzari e, simplesmente, não atacou mais, literalmente parou, cedendo às iniciativas ao Matias!
Como eu não podia torcer, parei de fotografar e vi, apreensivo, o Matias conduzir o Luís Henrique para um dos cantos do tatame e contar, em alto e bom tom, “um, dois, três”, com o Henrique voando... O árbitro central, prof. Luiz Scandiel, de imediato ergueu o braço direito sinalizando ippon, passou para wazzari, chegou a koka e, finalmente determinou nenhuma vantagem, pois o Luís Henrique, ao ser projetado, desvencilhou-se da pegada, girou no ar, completou o salto mortal e caiu de pé!
Imediatamente após, ao reinício da luta, deu um ippon no Matias, sempre o morote seoi nague, e encerrou a luta, ganhando, mais uma vez, o Campeonato Estadual Estudantil de forma incrível.
Seu comentário quando fui abraçá-lo, ainda com o coração na mão: “Eu queria ver se ele me acertava um tomoe-nague...”
E nada mais disse.

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