sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Conto 1 - As Uvas do Christiano

Uma breve introdução....

Em 1994, morando em Porto Alegre, empolgado pelas toneladas de livros que sempre li e sem muitos familiares e amigos por perto, decidi assumir a paixão pela literatura e ser um escritor. Um grande escritor.

Para saber como escrever (sempre com o raciocínio mecanicista de buscar o conhecimento formal para depois criar), cursei uma Oficina Literária, a "Alquimia da Palavra", coordenada por uma figura divertida, Sérgio Cortês.

Na metade da oficina, compromissos profissionais me levaram de volta para São Paulo. Perdi todo o contato com o Sérgio e meus colegas de oficina: Carmen Martinez, Neusa David, Roberto Pancaro, Hervê Saciloto, Laura Beatriz Flores, Guilherme Freitas, Cilon do Canto, Marina Martinez Nunes, Lúcia Ramos da Silva...quem sabe através desse BLOG eu não retome o contato com eles...e também deixei de ter meu conto publicado na antologia feita ao final da oficina.

Frustrado, guardei todo o material que escrevi até hoje, quando decidi publicá-los nesse BLOG. A tentação de melhorar os textos escritos há 15 anos atrás é enorme, mas resisti...e quem os ler terá a oportunidade de encontrá-los tal como foram escritos há tanto tempo...

Então com você, o primeiro conto!

Conto: As Uvas do Christiano
Autor: Rodrigo Guimarães Motta
Escrito em: 1994

Já 19:30 horas? Como a semana passou rápido, depois que o Sérgio me ligou, convidou para o curso de contos, agora sim vou poder me expressar para uma platéia digna de me ouvir.

Só mais um traguinho e eu já saio. Pensando bem, dois e eu pego meu texto e aí sim vou poder lê-lo para meu público.

- Sai daqui, seu velho bêbado!

Não tive tempo de acabar minha terceira cachaça e a velha bruxa me dá esse berro. Deixa ela, vou agora para a Oficina Literária do Sérgio Cortes, para bem longe dos seus gritos e resmungos. Pensar que um dia já amei essa diaba!

Cheguei! 20:15 horas, bom horário para chegar, estão todos na expectativa para saber quem eu sou, afinal já devem ter se apresentado uns aos outros e todo aquele blábláblá

Vou começar a falar de mim, ou melhor, vou me apresentar lendo o meu texto. A entrada triunfal, o que diria a velha bruxa!

- Deixe a leitura para depois, apresente sua pessoa agora.

Pôxa vida, dediquei toda a minha semana para essa gostosa expectativa de ler meu texto e agora estes pés-rapados não querem ouvi-lo...deixe estar que logo vem o troco.

Parece brincadeira, são 21:15 horas e ninguém deu pelo meu texto, vou distribui-lo, quando essa gentinha ler a primeira página, vai se arrepender de ter me desprezado.

21:30 horas, a corja não entende minha filosofia dicotômica pós-marxista neo-freudeana dos pobres X ricos que eu apreendi do texto do Fagundes, vou-me embora sem ler o meu texto, ha ha, vingança suprema.

- Christiano, espere aí.

Meu Deus do céu, o que esse Sérgio Cortez quer de mim? Na certa pedir desculpas, me chamar de volta, implorar meu perdão, uma chance a mais eu vou dar ao grupo, afinal eles não são tão ruins assim, talvez entendam alguns parágrafos do meu texto, serei magnânimo.

- Christiano, você atrapalha o grupo, por favor não volte mais.

O quê? Essa figurinha disse isso? Não responda Christiano, não se rebaixe. Vá embora de cabeça altiva sem olhar para trás. Sim, assim mesmo, valeu garotão, como papai me ensinou.

Diabos, 23:45 horas e eu ainda estou acordado, 8 tragos na cabeça, a velha bruxa roncando ao meu lado, seu bafo úmidoapodrecendo o ar. Quer saber duma coisa? Azar daqueles trouxas, eu não queria ler meu texto para eles mesmo!

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