Conto: Escolha Certa
Autor: Rodrigo Guimarães Motta
Escrito em: 1994
Meu diário, meu Amigão: escola, shopping, clube. Os três lugares que frequento, tão cheios de amigos e amigas. Minhas colegas de classe no terceiro ano, sempre prontas a dar uma esticada no Shopping Iguatemi para olharmos as vitrines, em semana de mesada comprar tudo que nossos olhos passaram o mês imaginando. Depois o Papai vem reclamar:
- Fefê, já gastou tudo!
- Puxa Papai, tá todo mundo usando essa roupa e o livro de poesias foi o Tio Ismael que recomendou.
- Você ainda me leva a falência...
Tudo tão gostoso, que agora em Maio baixou uma depressão danada em mim, o começo do cursinho adia em seis meses novas idas ao shopping, vou ter que mudar o horário da aula de natação para a noite, saco.
Amigão, na minha primeira aula de natação no novo horário conheci o Xuxa. Loiro, forte, esguio, no final do treino sua boca de traços sensuais me intimou:
- Como você chama?
- Fefê.
- Meu nome é Xuxa. Meu estilo é crawl e faço parte do time de pólo-aquático.
- Que legal...
- Qualquer hora pego seu telefone para sairmos. Tchau!
Quando consegui falar meu tchau ele já estava longe, seu perfil tão belo e tão superior. Fiquei com raiva de mim mesma, aquele monumento de arrogância fez aparecer esse calor morno e molhado entre minhas pernas, a curiosidade e a necessidade de ter um homem em mim crescendo demais.
Jantamos em casa, Papai, Mamãe, Tio Ismael, Tia Lilica, e eu. Como está a leitura do livro de poesia, Tio Ismael perguntou, super-jóia, você vai ter um companheiro para a leitura, o João, meu afilhado de Cuiabá vem para cá fazer cursinho, vai ficar na sua classe e além de adorar poesia também escreve seus poemas.
Depois do jantar, enquanto tomava meu banho, lembrei com carinho do Tio Ismael, único cúmplice da minha paixão, a poesia. Como será esse tal de João que vai estudar comigo? Amigão, menino gostar de poesia...duvido. Só querem saber de esporte, sair à noite, beber. Igual o Xuxa, ah Xuxa...a água gelada não afoga o meu desejo, pego a escova de cabelo tão minha conhecida, abruptamente ela está entre minhas pernas, rápido, forte, preciso de um homem, rápido, forte, preciso de um homem!
Que dia. No cursinho o moreno quieto da primeira fila, corpo bonito, olhos meigos, chega em mim, deixa que eu adivinho seu nome, é a Fefê, sobrinha do Tio Ismael, como você soube, tão bonita como o Tio Ismael me falou só tem uma na classe. A conversa foi longe, Amigão. Ele tão envolvente, contando sua experiência em Cuiabá, seus momentos sozinho preenchidos com a leitura, a vontade de vir estudar em uma cidade maior, o fim do namoro de anos quando mudou. Amanhã vamos comer algo depois da aula, vamos João, tchau então.
Com a cabeça nas nuvens, fiz a aula de natação, mal havia saído da piscina quando o Xuxa atacou.
- Oi Fefê!
- Oi.
- Bom te ver. Meu pai me emprestou o carro, hoje te dou carona pra casa. Vá se trocar que eu te espero na portaria.
Que raiva desse cara, mas como recusar a carona de ombros tão largos, cintura tão esguia? Entramos no Tempra do pai dele, a música tocando alto no CD. Parou o carro alguns metros além da porta da minha casa.
- Tchau Xuxa, brigado.
- Tchau Fefê – e me deu um beijo na boca, longo e insinuante, sua língua me penetrando, subjugando, fazendo meu corpo tremer. Sua mão forte tocou meus seios, seus dedos apertaram os bicos até machucar. Abaixou o banco e subiu em mim, abaixou minha bermuda, um, dois, três dedos na minha...meus gemidos incontroláveis cada vez mais altos, a buzina ao lado do Tempra veio me salvar.
- Olha a sacanagem, seus tarados.
- Vá se ferrar – rosnou o Xuxa para o carro que já se afastava – Sábado, Fefê, meus pais viajam, passo aqui para irmos assistir um vídeo em casa.
Não consigo prestar atenção em nada do que os professores falam no cursinho, ainda não é meio-dia de sexta-feira, tão longe do sábado à noite! No final da aula o João se aproxima, lembro que havíamos combinado de lanchar juntos após a aula, vamos lá em casa, eu faço um milkshake de chocolate com cobertura que é uma delícia, vamos achei você estranha na aula hoje, não falou com ninguém, não é nada João, só impressão sua.
O que era um milkshake rápido durou horas. O João mostrou o caderno aonde estavam escritos seus poemas, passamos um tempão nos emocionando com seus escritos, simples e cheios de sentimento.
Amigão, como eu gosto do João! Fefê, o que você achou, adorei todos, então leia esse em casa, escrevi para alguém que não conhecia e procurei por um bom tempo. Não fique convencida, mas a dona dessas palavras é você. Minha emoção foi presenteada com beijos do João. Primeiro em minha bochecha, depois em minha boca, sua língua não satisfeita, arrepiando o meu pescoço. Amigão, a língua do João é uma delícia, mas os arrepios que meu corpo sentiu eu jamais havia sentido antes tão misturados com carinho e afeto. Tão respeitosas, as mãos de João não tocaram em mim. Quando mamãe chegou para me buscar, nos depedimos, Fefê, te quero muito, há tantas coisas que quero te dizer, amanhã você não quer vir aqui em casa à noite para conversarmos, quero sim, até amanhã.
Sábado, nove e meia da noite. Estou vestida e maquiada pronta para a grande noite. João é Xuxa, tão diferentes, tão atraentes e eu só tenho uma virgindade! Tomei há pouco uma decisão, sei qual vai ser meu homem, ou melhor, a decisão tomou conta de mim.
Arrumo minha bolsa, coloco a chave de casa, hoje não tenho hora para voltar, a camisinha que mamãe me deu há seis meses, para “quando chegar a hora”. Acho na bolsa o poema do João, abro e leio com doce carinho:
“Mal nos conheceremos e ao primeiro olhar
Nos tornaremos um só coração
Amando como se fossem mil...”
Paro na terceira linha, guardo o poema, estão buzinando por mim lá fora. A excitação me envolve por completo, me sinto inteira úmida e sensual, entro no Tempra com a música alta e saímos.
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