terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Saga de Um Principiante - Wagner Hilário

Pessoal,

(Mais) Um grande amigo formado no tatame, Wagner é uma pessoa especial: jornalista de destaque, escritor de mão cheia (seu BLOG fala por ele) e, filho de um grande judoca, já está se destacando como uma das maiores promessas da academia onde treinamos. O texto abaixo é uma lindo presente dele, que nos relata sua estréia nos tatames competitivos. Para ler e reler!

A Saga de Um Principiante

(Parte 1)
Estava determinado, se não fosse pela qualidade atlética, venceria meus adversários pelo cheiro insuportável de Aliviador – um “genérico” do Salonpas – que eu rescendia. A mãe de uma colega de academia, que estava conosco na área de aquecimento, precisou se retirar em virtude da reação alérgica que teve ao odor do analgésico. Brincadeira à parte, era a minha primeira competição, um ano depois de ter entrado para o judô. Apesar das 27 primaveras, estava na faixa azul, terceira faixa de uma série que pode culminar na vermelha, a décima primeira, à qual acho pouco provável que um dia chegue. Para atingir tal patamar, imagino, precisaria de mais uma vida. Assim, dou-me por satisfeito se chegar à faixa preta, a nona na hierarquia e na qual há uma porção de graduações pelas quais devemos passar para alcançar a faixa “coral”, vermelha e branca, que antecede a vermelha. Essa trajetória não é fácil. A maioria passa a vida toda fazendo judô sem jamais alcançá-la, o que não é demérito, pois mais importante que ser faixa vermelha é percorrer esse caminho: o trajeto vale mais que o destino. Para quem não sabe, judô significa “caminho-suave”, do que se depreende que é uma estrada pela qual devemos percorrer com suavidade e sempre. E que paisagem nos traz esse caminho? Creio, e pelo que vejo a maioria dos judocas também crê, que nos traga o autoconhecimento, a vitória sobre si mesmo. Mas vamos à espinha dorsal deste texto: a minha primeira competição.
Lá estava eu, avariado, mas, de certa maneira, contente, porque não me faltariam desculpas para o insucesso. Porém, é óbvio, não entraria para perder. Sujeito metido besta como eu não gosta de perder nem em dois-ou-um, quanto mais numa luta em que o vitorioso é determinado na maior parte das vezes de forma inconteste e inclemente, à custa da submissão do oponente que se estatela de costas no tatame. A sensação de sofrer um ippon (golpe perfeito), imagino, é muito parecida com a de sofrer um nocaute, ao menos se considerarmos a declaração dada pelo célebre pugilista da década de 50, Floyd Patterson, ao jornalista norte-americano, Gay Talease, que a registrou em perfil intitulado “O Perdedor”. Você deve estar se perguntando: “Como é que ele compara uma coisa com outra se só tem um ano de judô e, ao menos no texto, nem da primeira competição participou ainda?” Os treinos, meu amigo... Os treinos. Neles, caiu o suficiente para lhes assegurar que sei como é... Ao ser lançado ao chão de costas, a sensação de leveza e completo descontrole sobre si mesmo lança-lhe também a uma espiral de despreocupações que dura bem menos na matéria do que no espírito. Ainda no ar, você sabe que a partir dali não há mais o que fazer, a não ser cair corretamente – o que após alguns meses de treino você começa a fazer automaticamente (às vezes pode falhar) – para depois levantar. Aliás, a primeira técnica aprendida no judô é a de queda. Não porque é a mais difícil ou a mais fácil, mas porque é a mais importante. E o difícil mesmo não é cair nem ser lançado ao tatame, mas levantar e encarar a todos com cara de derrotado. Foi isso o que disse Patterson.
– Só levanta quem sabe cair – disse-me certa vez o sensei Rioti Uchida. – E o mais importante no judô (e também na vida, por que não?) não é vencer, mas ter forças para levantar.
Contudo, não quero aqui dar conotação hollywoodiana à minha primeira competição. Patterson foi um grande pugilista: campeão Olímpico e o mais jovem campeão mundial dos pesados, com apenas 21 anos, mas ainda assim seu perfil ganhou o título de “O perdedor”. Quando fala do nocaute sofrido refere-se à luta em que tentava recuperar o título em uma revanche malsucedida contra Sonny Liston. De minha parte, o torneio em que me metia era amistoso e todos, perdedores e vencedores, levariam para casa o mesmo troféu de participação. Vencer era talvez o que menos importava para a maior parte dos envolvidos. O torneio levava ao pé da letra uma das máximas do judô, segundo a qual o vencedor não merece mais mérito nem atenção do que o derrotado. A razão desse princípio é elementar: “se não há quem perca, não há quem vença”. Mais elementar do que se poderia supor, embora soe tola aos ouvidos da maioria dos habitantes deste mundo extremamente competitivo, entre os quais me incluo.
– Quando você só pensa em derrubar sem respeitar o companheiro, as pessoas percebem, e então ninguém quer mais treinar com você. Sem ter com quem treinar, o seu judô perde qualidade, e você não vai ganhar mais de ninguém – disse-nos Uchida.
Olha, racionalmente, não faço objeção alguma a nenhuma das frases do sensei que aqui listei. Por isso, antes de iniciar os embates orei em silêncio pedindo, sobretudo, que não me contundisse, ainda mais, e que não contundisse ninguém. Não pedi mais nada a Ele, mas a mim roguei que desse um jeito de ganhar todas as lutas, mesmo estropiado. Bom, aqui vale mais uma digressão antes da “epopéia”... Tenha paciência comigo, leitor, as idéias são assim mesmo, uma chama a outra que chama outra e assim vai. Aliás, a vida é assim: um fato chama outro que chama outro e vai se embora. Esse negócio de episódio isolado é conversa para boi dormir... Além do mais, você já se dispôs a ler o texto até aqui e não vai querer perder o prato principal depois de ter comido a entrada.

(Parte 2)
O fato é que na Academia Alto da Lapa, onde treino, graças ao nosso sempai e godan (superior e faixa preta do quinto grau) Rodrigo Motta, todos somos incentivados a estabelecer, antes do início de um novo ano, pelo menos três metas para serem alcançadas ao longo dos doze meses. Como bom profissional do ramo de marketing, Motta faz questão de dizer, aderindo a mais um dos inúmeros bordões imortalizados por livros de auto-ajuda: “Quanto mais ousados forem os seus objetivos e metas, mais grandiosas serão suas conquistas”. Muito bem... Eu começara no judô no fim de setembro de 2007 e no início de novembro já conquistava a faixa cinza. Queria manter o ritmo e estabeleci como metas para 2008, em primeiro lugar, conquistar a faixa azul, depois, vencer o primeiro campeonato que disputasse e, por último, chegar à faixa amarela.
– Legal – disse-me Motta, com semblante pouco animador, depois de receber a minha lista de metas. – A faixa amarela e o primeiro campeonato são bem difíceis de conseguir, mas tudo só depende de você.
Ao pregar as metas no mural da academia, vi que Motta havia amenizado um dos meus objetivos. Em vez de conquistar o primeiro campeonato que eu disputasse, ele colocou que o meu segundo objetivo era ficar entre os três primeiros. Gostei da prudência que lhe sobrou e que me faltou. Não o agradeci, mas devia ter-lhe agradecido. A verdade é que na ocasião do campeonato já estávamos em outubro e até ali só conseguira a faixa azul. A boa notícia foi que sensei Uchida, no começo de setembro, avisou-me que eu faria o exame para a faixa amarela no fim de outubro, começo de novembro. Ou seja, àquela altura, tinha a chance de vencer a dita primeira competição e ainda conquistar a faixa amarela.
– Não acredito que o sensei tá dando essa colher de chá – brincou Motta, quando soube que eu faria o exame.
– Sinal que tô me dedicando.
– Cê falta mais do que vem. – Ele diz isso a todos, basta faltar uma única vez no mês.
O local da competição foi o Anhembi Tênis Clube, que fica na capital paulista, pertinho da Marginal do Rio Pinheiros e do Parque Villa Lobos. Antes de os adultos começarem suas lutas, as crianças disputavam as delas. Não me ative muito a nenhuma das disputas dos pequenos. Depois que tomei banho de Aliviador e vesti o quimono, só me preocupava em aquecer-me para chegar o menos dolorido possível aos embates. Na minha cabeça, tinha certeza que enfrentaria apenas atletas do meu peso, e quando comecei a pesar com o olhar meus adversários, constatei que todos eram faixas roxas, marrons ou pretas. Bom e ruim. Bom porque se eu perdesse, perderia para homens com mais de cinco anos de judô. Em suma, eu seria a zebra, não teria responsabilidade nenhuma. Ruim porque as chances de perder eram bem maiores.
Porém, algo inusitado, ao menos para mim, aconteceu. Em vez de competição eliminatória, em que perder significaria ficar de fora e ganhar seguir em frente, os adultos competiriam por equipes. Cinco equipes foram formadas e todas lutariam contra todas, em tese, e cada qual se constituiria por judocas de diversas graduações. Assim, para serem o mais justo possível, os organizadores decidiram que as chaves de disputa se constituiriam de acordo com a graduação. Exemplo: preta com preta ou marrom e assim por diante. O peso e a idade não seriam considerados, e eu acabei caindo numa chave em que quase todos os adversários eram leves (73 kg). Eu era a exceção para cima (79 kg), e um companheiro de academia, Luiz Lavos, para baixo (66 kg). Eu e ele éramos também os menos graduados: ele na cinza e eu na azul. Enfrentaríamos um faixa verde, a quarta faixa antes da preta, um laranja, a quinta, e um amarela, a sexta. Com a luta entre nós, faríamos quatro combates ao todo, embora no fim eu tenha descoberto que nem todos fizeram quatro lutas.

(Parte 3)
A minha primeira disputa foi contra um moleque alto, faixa amarela, que aparentava ter uns 16 anos. Sua envergadura, maior do que a minha, em tese lhe permitiria pegar a gola do meu quimono com mais facilidade do que um sujeito da minha altura ou menor do que eu. Por isso me concentrei em não deixá-lo chegar perto dela. Ele era destro, e tratei de dominar sua manga direita, segurando-a para que não pegasse a minha gola – regrinha elementar do judô. O segundo passo foi pegar sua gola e fazer a minha luta. Assustado, ele não parecia disposto a me atacar, o que facilitou bastante a minha estratégia. Sentindo-o acuado, parti para cima. Apenas se defendendo, ele não demorou a ser punido pelo árbitro por falta de combatividade, o que me colocou à frente no placar, com um koka, a pontuação mínima do judô. Com medo de ser punido novamente e ficar perto de uma derrota prematura – três punições significam a desclassificação da luta –, ele mudou a estratégia e se tornou mais agressivo. Assim, pude contra golpeá-lo e consegui um yuko, pontuação só superior ao koka. À frente no placar e cansado, decidi administrar a luta. Mais forte fisicamente que o garoto e ciente do desespero dele por estar perdendo, esperava-o atacar e contra golpeava sempre para não ser punido. Em determinada altura da luta, não conseguia mais dominar-lhe a manga, e ele passou a dominar a minha gola. Mas antes que ele pudesse fazer algo, o tempo de luta acabou. Venci... Uma luta dessas tem duração de três minutos e não é nada fácil ficar três minutos tentando derrubar um cara que, por sua vez, faz de tudo para não cair e de tudo para lhe derrubar.
Depois da primeira vitória, eu estava confiante para a segunda luta. Mas antes de fazê-la, teria um longo intervalo. Por serem cinco os grupos, um precisava sobrar em uma das rodadas. Na segunda rodada, foi a nossa vez. Para não esfriar, fui a um dojô (área de luta) vazio – a competição era feita num ginásio onde foram improvisados tatames que formavam umas quatro ou cinco áreas de luta – e fiquei treinando com Gilberto, uma figurinha talentosa da nossa academia de aproximadamente sete ou seis anos que venceu todas as suas lutas entre a molecada. Treinamos queda, simulamos lutas e assim eu pude me manter a todo vapor, pronto para encarar o próximo adversário. E veio logo o mais graduado da chave, um jovem faixa verde, com a minha estatura e aparentemente uns 73 kg. Não devia ter mais do que 17 anos, e me pareceu tímido ao entrar no tatame. Porém, diferentemente do faixa amarela que enfrentei na primeira luta, assim que o árbitro ordenou, (hajimê! Traduzindo: “começar!”), ele veio para cima de cara. Não sei que golpe tentou aplicar em mim, mas sei que sua perna esquerda, de apoio, ficou do jeito para eu aplicar-lhe um tani-otoshi: com a perna direita, lacei sua perna esquerda e, pesando a mão na gola também do lado esquerdo e jogando meu corpo frontalmente contra o dele, projetei-o de costas no chão.
– Ippon! Sore made (acabou)! – disse o árbitro.
Para quem ganha, é ótimo ouvir isso. Meu primeiro ippon. Estava satisfeito com meu desempenho. Havia vencido a minha primeira luta e conquistado o primeiro ippon na segunda. O certo é que, se perdesse as próximas lutas, àquela altura já não teria feito feio.

(Parte 4)
A terceira batalha não tardou a chegar. Dessa vez, meu adversário seria um velho conhecido, Luiz, contra o qual havia feito randori – simulação de luta em que o principal propósito é treinar o ataque – pouquíssimas vezes na academia. Ah, um parênteses, para os que duvidam dessa narrativa, por favor, entrem no You Tube e procurem por Luiz x Wagner. Lá, vocês verão a luta que neste parágrafo lhes narro. Mais graduado do que ele, mais pesado, mais novo, mesmo que poucos anos, e com mais tempo de judô, mesmo que um mês, a tarefa de vencê-lo pesou nas minhas costas. Estava com medo de perder. Há um velho ditado que diz: “Quem tem medo de perder, perde a vontade de ganhar”. E o primeiro golpe que entrei foi um arremedo de ouchi-gari e, hábil como é Luiz para se defender de tal técnica, o resultado só podia ser um kaeshi (contragolpe) bem dado. Por muito pouco não vi a viola em cacos ali mesmo. Caí de ombro, o que me valeu um yuko contra. Tenso, parti para cima, mas ele se defendia bem. Então, para surpreendê-lo, resolvi lançar mão de técnicas de sacrifício, golpes que quem aplica precisa se jogar de costas no chão. Primeiro, um tomoi-nague – balãozinho: pé na barriga do oponente – que me valeu um wazari, pontuação imediatamente anterior ao ippon; dois wazaris valem um ippon e a luta acaba. Passara à frente. Porém, em vez de botar o pé no freio e administrar o resultado, mantive a carga. A energia que me dominara depois de sair atrás não arrefeceu com o wazari. Então, consegui um koka por meio de um de-ashi-barai, a famosa rasteira. Quando eu pensava que a luta terminaria no tempo e não no golpe, Luiz bobeou e eu consegui pegar-lhe o quimono com a mão direita na região da nuca, o que me permitiu aplicar-lhe outra técnica de sacrifício, o sumigaeshi, uma espécie de balãozinho, só que em vez de pé na barriga, na virilha.
– Ippon! Sore made!
Estava tudo bom demais para ser verdade. Embora não disputasse uma competição individual, eu estava mais preocupado com o meu desempenho. Aliás, por equipe não íamos bem. Apesar das minhas três vitórias e das três vitórias de outro membro do nosso time – eram cinco judocas por equipe –, na somatória dos resultados, perdêramos todos os embates até aquele instante. Torcia pelos companheiros, mas me sentia intimidado em dar dicas. Afinal, eram praticamente todos sempai. Ficava mais quieto, esperando a luta seguinte.
Quando ainda recobrava o fôlego da disputa com Luiz, disseram que precisava voltar ao tatame. Agora enfrentaria o faixa laranja, que devia ter uns 40 e poucos anos. Mais alto do que eu e magro, mal segurei em seu quimono e senti como se tivesse sido tirado para dançar. Ele se movimentava bastante, mas quase não entrava golpe. Seguindo os ensinamentos do sensei Uchida, em vez de resistir-lhe aos movimentos, acompanhei-os e em dado instante se abriu para mim a perspectiva de entrar outro tani-otoshi, só que desta vez com a perna esquerda na perna direita do adversário. Foi o que fiz... Infalível, a luta acabou com mais um ippon. Missão cumprida.

(Parte 5)
O leitor deve estar pensando: “Mas que drama, até parece que ele venceu Tiago Camilo”. Já disse que não quis dar conotação hollywoodiana ao texto, mas a carga dramática que vocês encontram nele é justificável, deve-se à relevância que eu, particularmente, dava a essa conquista e, esse apreço pelo feito, impregnou de sentimentos minha narrativa. Não posso negar o orgulho que sinto por tê-lo alcançado, por isso o chamo de saga, a saga de um principiante. Se fosse faixa preta (shodan), talvez não pudesse classificá-lo assim, embora Motta sempre diga que, seja o adversário shodan ou faixa branca, seu empenho e sua concentração na luta são os mesmos. De qualquer maneira, o fato é que não me faltam exemplos de shodan cujas sagas se coadunam à graduação que amarram na cintura: sensei Uchida, campeão mundial de kata, e o próprio Motta, atual campeão brasileiro máster de judô na categoria leve. Vale dizer ainda que Motta não tem parte dos ligamentos do joelho de uma das pernas, resultado de contusão nos tatames. Na semana que antecedeu a minha participação na amistosa competição, perguntei a ele:
– Qual é a melhor estratégia para lutar contundido?
– Olha, não tem muito disso. Cê tem de entender que no judô a gente precisa aprender a conviver com a dor. Pode perguntar pro seu pai.
Meu pai foi bicampeão brasileiro de judô. Nunca tive a oportunidade de vê-lo lutar, mas sem dúvida, saber do que ele foi capaz como lutador, estimula-me a praticar e a disputar campeonatos. Não imagino chegar a dois títulos brasileiros entre os sêniores, mas me sinto com a obrigação de não fazer feio quando me propuser a lutar competitivamente. Quanto à resposta de Motta, acho que quis dizer: lute sempre, apesar das dores. Mais uma lição que podemos extrapolar dos tatames para a vida. Afinal, quantas não são as dores, físicas e espirituais, com quais as devemos conviver dia a dia, sem jamais interromper nossos passos.
Agora que retomo a questão da contusão – com o quê comecei este texto – devo explicar que ela não era fruto da minha imaginação. Duas semanas antes da modesta epopéia que aqui lhes narrei, durante um randori, ao tentar aplicar um ippon-seonague de esquerda, golpe em que carregamos o adversário nas costas, calculei mal o movimento, entrei longe e permiti a defesa. Inexperiente, fiz tudo isso com vigor demasiado, e quando o oponente travou o giro do meu quadril com a mão, não tive tempo de conter o tronco. Ouvi um estalo doloroso no músculo dorsal, seguramente uma contratura. Você deve se perguntar: “Se a contusão era verdadeira, onde ela foi parar durante a competição?”. Não sei, só sei que assim que a competição acabou ela voltou... E durou mais um mês, cada vez menos aguda. Nesse ínterim, convivendo com a dor, que, verdade seja dita, àquela altura já não era nada demais, fiz meu exame de faixa e conquistei a faixa amarela.
Aí, leitor, você, irritado, vira e diz: “Poxa! Você escreveu tudo isso para ufanar-se das próprias conquistas. E a história do Floyd Patterson? E o lance de que perder e se reerguer é mais glorioso do que vencer? Você não perdeu nada”. Verdade. Este texto talvez ficasse melhor se eu perdesse e contasse o que senti diante da derrota. Aliás, fica aqui meu compromisso de narrar-lhes uma jornada malsucedida também. E fique sabendo que elas não faltarão... O fato é que sou realmente apenas um principiante, pois para ser um campeão de verdade, terei de vivenciar muitas derrotas. Como costuma dizer o sensei: “A gente aprende enquanto está caindo. Quando para de cair, para de aprender. Aí, temos de buscar um lugar onde nos derrubem para continuarmos a aprender”. E por um acaso existe vitória maior do que aprender?

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